quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Escrevendo com a luz - como tudo começou.


Hoje começo a postar uma série de textos sobre fotografia, como começou, algumas escolas e fotógrafos e algumas técnicas. Estou fazendo um estudo sobre fotografia e surrealismo, mas antes de chegarmos lá, vou tentar mostrar como tudo isso começou.

Uma câmera escura.

Sim, tudo começa com uma câmera escura. A fotografia começa a partir de experimentos de químicos e alquimistas, estando o seu surgimento, portanto, ligado aos estudos da luz e da fotoquímica. Já na Antiguidade Clássica, Aristóteles percebeu que um pequeno orifício feito numa câmera escura, ao ser atravessado por uma luz solar, refletia a imagem do mundo exterior numa parede escura. Imaginem vocês como isto não deve ter emocionado o filósofo. Um dos primeiros a fazerem experimentos com uma câmera escura foi um matemático e físico árabe chamado Alhazen, que a utilizou na observações de eclipses solares, por volta do século X.

Por volta do século XVI, já era conhecido o escurecimento dos sais de prata, que ao serem atingidos pela luz formam a imagem. No entanto, os químicos e estudiosos não haviam ainda descoberto como interromper o processo. Já se sabia que era a luz o elemento fundamental para a formação das imagens, restava agora saber como controlar a sua exposição e evitar o enegrecimento (ou seja, o famoso filme queimado!) das mesmas.
Quem primeiro conseguiu a proeza foi um francês chamado Joseph-Nicéphor Niépce, por volta do século XIX. Por volta de 1822, Niepce já trabalhara com um verniz de alfalto (betume da Judéia), aplicado sobre vidro, além de uma mistura de óleos destinada a fixar a imagem. Com esses materiais, obteve a fotografia das construções vistas da janela de sua sala de trabalho - após uma exposição de oito horas. Contudo, aquele sistema heliográfico era inadequado para a fotografia comum, e a descoberta decisiva seria feita por um cavalheiro muito mais cosmopolita: Louis Daguerre (no entanto, vou deixar um viva ao Niépce, que após dez anos de tentativas conseguiu realizar sua primeira foto - que ainda bem, continua preservada e pode ser vista por nós). Em 1835, Daguerre sensibilizou com luz uma chapa de prata revestida de sais de prata e, no entanto, nenhuma imagem se formou. Inconsolado, guardou a chapa no fundo de um armário e foi dormir. No dia seguinte, que incrível surpresa: havia na chapa uma imagem formada! O responsável pela revelação foi o vapor de mercúrio, que segundo a lenda, foi atribuído a um termômetro quebrado no armário do cientista. Feliz com a descoberta, Daguerre padronizou o processo e passou também, como elemento final, a utilizar uma solução aquecida de sal de cozinha para tornar as imagens inalteráveis. Assim, ele divulga o processo, nomeado de Daguerreotipia, que é também lançado ao povo através da Academia de Ciências de Paris. Surge assim, popularmente, a fotografia.

Posteriormente, muitos cientistas, físicos e químicos continuaram a realizar pesquisas sobre a fotografia, a partir do método desenvolvido por Daguerre. Imaginem o quão surpreso (ou empolgado) ele não ficaria ao se deparar com as câmeras digitais, com a rapidez no processamento de imagens e a quase extinção dos modos analógicos de captação do mundo.

Vou terminando por aqui, prometendo voltar para falar de uma câmera muito famosa e desejada: a Leica.

Foto: Vista da janela em Le Gras - Joseph Niépce (1826).

*



Nenhum comentário: