quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Pessoas, bichos e outras coisas mais.

Bicho homem. Quando o tema da primeira edição da quatro sobre tema foi definido, a única coisa que eu tinha certeza era: não tenho a menor idéia de como materializar isso em uma imagem.
Os dias foram passando, os meninos cheios de idéias e sempre falando "já fiz as minhas fotos, vc ainda não fez?" e eu, totalmente em crise de idéias, não, ainda não fiz.

Fotografar um tema exige muito mais do que simplesmente clicar. É importante construir uma narrativa através das imagens, fazer com que elas falem por você, que elas ultrapassem os silêncios naturais das fotografias. Pensando e repensando, me veio a idéia de trabalhar com o sangue. O sangue como elemento da natureza, que corre dentro de nós, que aparece impregnado na nossa pele quando nascemos, que as mulheres liberam, todos os meses, num processo natural e involuntário. Isso nos aproxima da natureza. Isso nos aproxima dos animais. Isso nos torna animais. Assim, fiz as duas primeiras fotografias: uma mão que segura um pedaço de carne crua, ensanguentada, carne que alimenta o homem, que também é carne, que também é sangue. Na outra, uma menina observa a sua menstruação, o sangue de renovação da feminilidade, o sangue que atesta a sua capacidade de gerar, de continuar.

Em oposição a estas duas imagens, queria algo leve, colorido e ainda natural. A mulher, que também é mulher bicho, em fusão com a natureza. Optei por uma mulher nua, despida de convenções e repressões, mulher natural, fêmea bicho, assim como viemos ao mundo. Nós todos.
Associei a condição de bicho à liberdade, à infinitude que só a natureza têm. Nós iremos, ela ficará. A última foto partiu da minha vontade de ser non sense, ou seja, não há sentido algum, e sim sentidos, preenchidos por flores e uma eterna entrega ao mundo, sendo homens, bichos, bichas fêmeas e fêmeas bicho.

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